25.7.07

Da termodinâmica aplicada

Ahoy, gritou Ratífulo 1, que lera essa palavra num livro de aventuras de piratas, ainda ratazaninha pequena mas já espevitada e, desde essa altura, tivera sempre vontade de a utilizar. Não que soubesse exactamente o que significava mas, naquele momento, também não causou diferença; gritasse ele, epá caramba olhem para ali, a reacção seria a mesma: vários pares de patas de ratazana a esfregarem os olhos, como se não acreditassem ser possível que, naquele mar onde não se passava nada (tirando o recém sofrido naufrágio) existisse aquela ilha.

Não era uma ilha nada de especial, concluiu Ratífulo 1, que era dado a conclusões rápidas e decisões ainda mais asaps. Nem sequer valeria a pena parar para investigar melhor. Além disso, não gostava assim muito de elefantes, muito menos dos voadores. Mas não disse nada porque percebeu que a maré já arrastava a jangada para a rebentação, a liderança é sempre uma coisa periclitante e o que interessa é parecer firme: ahoy, berrou ele outra vez, como quem diz, em frente rapaziada e sem medo! e o Bando dos Ratífulos preparou-se para a abordagem.

Era um Bando que já tinha visto melhores dias. Os dias da Marcha das Ratazanas, ah esses gloriosos dias em que se tinham queimado pontes, tantas e com tal entusiasmo que tinham acabado por se especializar na queima das ditas e, a dada altura, tinham largado a Marcha e sub-empreitado os seus esforços ao serviço de outras criaturas que fugiam da cidade-que-gemia-antes-do-estertor-final. Não tinha sobrado uma única e, pelo caminho, todas as técnicas de pirotecnia e combustão tinham sido experimentadas e aperfeiçoadas.

O Banco dos Ratífulos era, provavelmente, o melhor e mais especializado grupo de termodinâmica, coisa que muito os orgulhava, mas que pouca serventia tivera, desde que se tinham feito ao mar, no último barco que largara do porto da cidade-que-gemia-antes-do-estertor-final, envolto numa nuvem do pó resultante da implosão da última ponte. Sem mais nada à pata, a última experiência, mais por desfastio de tanta água, resultara numa, diga-se! belíssima explosão naval.

Os ratos, sendo os primeiros a abandonar o barco, tinham-se safo.


(à suivre)

21.7.07

Da Imparável Marcha das Ratazanas *

Como em tempos se referiu (apenas como a salada que acompanha o prato e fica assim asseverada a posição do autor sobre saladas), tinham sido as ratazanas os únicos seres vivos capazes de escutar os primeiros gemidos da cidade. À boa maneira da espécie - e sem qualquer culpa, coisa genética - tinham tratado de empilhar haveres e iniciar a Longa Marcha em direcção, bem, geograficamente falando, em qualquer direcção desde que a mesma fosse apanágio da palavra saída. Repare-se, uma família de ratazanas que vivesse no centro da cidade, para sair, tanto faria o norte ou o sul ou qualquer outro ponto cardeal e todos os intercalares, que as cidades costumam ser circulares. Mas em nome da protecção e segurança e outros valores caros a povos inteiros em marcha a passo de fuga acelerada, a Imparável Marcha acabou por se dirigir toda para uma direcção só, apanhando todos os participantes pelo caminho. Sem lógica, mas mais animado.

O ambiente que se vivia era de euforia, que o medo aprazado não é um pânico mas antes uma cautela. Ou, pelo menos, era o que o líder do grupo, uma ratazana cheia de marcas das guerras contra outros clãs e também gatos, fazia constar pelas fileiras. Tudo corria, pois, dentro do estipulado e na relativa calma que uma marcha forçada, com alguns espezinhamentos e uns quantos ratos mais coxos deixados para trás, proporciona aos mais fortes e audazes (nas ratazanas a Lei de Darwin ainda impera). E continuaria a correr, não tivesse a Marcha sido engrossada pelo Bando dos Ratífulos.

O Bando dos Ratífulos (nome inventado por eles mesmos, para se demarcarem das grandes famílias de ratazanas) era composto por algumas dezenas de ratazanas e ratos ainda na segunda idade mas já com ideias de sair de casa e ter um canto seu, com frigorífico cheio de cervejas, cinzeiros a transbordar de beatas e muito sarro no fundo do duche; e que, em horas mortas, se entretinha a colar e arrancar cartazes, assaltar lojas de conveniência e brincar com as leis da química. Seguiam algumas cartilhas de independência ou morte, braços armados de ideologias que ainda haveriam de pensar quais eram e a nós! a nós! ou coisa parecida.

Desde que se tinham juntado à Marcha, os desacatos tinham aumentado e a Marcha estava um bocado farta deles, mas serviam para assustar os gatos e cumpriam uma função utilitária na protecção dos mais fortes e audazes (e mais espertos).

Tudo corria, pois, mais ou menos agora, dentro do estipulado, até que o chefe dos Ratífulos, Ratífulo 1 (não eram muito imaginativos e o autor também não está com melhores ideias), resolveu abordar o Grande Chefe da Imparável Marcha (GCIM) e questionar o assunto das pontes. Alto e bom som.

Mas quais pontes? retorquiu GCIM, agastado com aquele atrevimento; mas depois lembrou-se que Ratífulo 1 era filho (embora em relações menos que cordiais) do Grande Chefe de uma das principais famílias e prosseguiu com melhores modos, que pontes, filho?

As pontes, então! respondeu o outro, não se distraindo com aquela bandeira espetada no nariz a acenar paternalismo causador de polémica em alturas menos urgentes. As pontes todas que temos deixado para trás!

Sim? atirou-lhe GCIM, diz depressa que estamos aqui parados; não sei se reparaste, acabamos de atravessar uma e a Marcha agora está toda virada ali para trás a ver o que se passa, que uma ponte numa cidade cujas pedras gemem não é proximidade desejável. Estás a lançar o pânico o que é ainda menos desejável e aposto que não é mais do que outra manobra do teu grupelho para se apropriar de bens alheios.

GCIM, implorou o outro e tão importante era aquela questão que deixou passar a parte da apropriação de bens alheios, credo que tinha aprendido de nascença e que agora lhe estava a ser apresentado como reprobatório. GCIM, as pontes que temos deixado para trás, temos de as queimar!

Queimar? ecoou a Marcha ao som espantado produzido por GCIM.

Claro, disse Ratífulo 1. Toda a gente sabe disto: numa Marcha Épica em fuga para a frente, há sempre que queimar as pontes. É obrigatório. Senão não é Marcha Épica e ninguém vai nunca escrever sobre nós.

Ninguém vai escrever sobre nós? produziu um coro afinado de ratazanas histéricas, antes sequer de GCIM abrir a boca. Mas isso não pode ser! prosseguiram outras e logo ali se produziu tão acesa discussão sobre a queima das pontes que ardeu num instante e o consenso foi atingido passado um curto espaço de tempo.

Ok! decidiu GCIM, queimam-se as pontes. Vamos começar por esta aqui! Alguém - e olhou para Ratífulo 1 - tem ideia de como isso se faz?

Bem...não, respondeu Ratífulo 1. Mas isso também não interessa. Temos ideologia e conceito. Temos a ponte. Depois do almoço a gente logo vê disso.

* repost mas não para encher, apenas para assegurar a continuidade, relembrando esta história

18.7.07

E os elefantes?!

Então não me esqueci dos elefantes?! A esta hora já passou o barco das ratazanas sem parar pela ilha e eu não escrevi o resto! Ora que porra!

Agapantos

Maiores que eu. Assustadores? Não. Só maiores que eu.
Assustadores os pinheiros quase deitados que crescem para os lados em mato cerrado. De picos quando se passa a mão ao contrário. Esses sim, fazem medo à criança que temos dentro. Medo daquele que arrepia a meio da história de fantasmas.
Se eu fosse pequena, ainda mais pequena, mais pequena que os agapantos mais baixos, quase que me meteria por ali adentro. Quase porque seria (fui? terei sido?) medrosa. Que sim, que venceria o medo e regressaria a casa toda arranhada, triunfante por ter conseguido. De coragem não se trata, apenas orgulho.

Às vezes penso que eramos uns grandes palermas quando eramos pequenos. Depois acho que somos ainda mais em adultos.

10.7.07

Melhor sítio para jornais à borla

Semáforos da Praça de Espanha. Agora são 3 jornais e mais uns quantos anúncios a novos empreendimentos imobiliários.

(aquela rapaziada ainda não percebeu a vantagem das joint ventures: cada um deles ficava lá, durante um bocado, a distribuir tudo de uma vez enquanto os outros iam tomar café e ler a concorrência e nós escusavamos de fazer aquela parte de tentar não acertar nos mecos, perdão, nos tipos todos que andam pelo meio da rua)

8.7.07

Corrente gastronómica

Uma corrente que não fica pregada aos fundos do Controversa Maresia é de continuar, como é evidente! Pergunta-me então a minha querida Sofia, o que é que comi nos último dias (na verdade é nas últimas cinco refeições), que é daquelas coisas que uma pessoa não faz a mais pálida ideia. Oh perguntas difíceis! Tomara eu poder responder, olha, querida, terça foi um loiro pálido que me caiu realmente mal, não sou de loiros, quarta um moreno latagão que não estava mal no género "palita o dente depois", quinta um outro moreno (eu é mesmo mais morenos) que comi e chorei por mais tanto que depois ainda me fui aos restos na sexta; mas creio que nem a pergunta era essa nem (sniff) estou lembrada sequer a quem sabem essas comezainas (é a vida!). Se queres saber realmente no prato, com faca e garfo, não me lembro de todo. Como sabes, não janto e, ao almoço, qualquer coisa sem interesse absolutamente nenhum, nos últimos dias. Tirando os chocolates Ikea e mais uns quantos pacotes de batatas fritas, nada aqui se encontra digno de nota. A falta de vesícula obriga-me a estas dietas...

Talvez a Cristina, a Florença, a Mad, o Anarca e o Carlos, tenham tido uns almoços e jantares menos prosaicos. Não passo à Susana, Rita, Clara e Pal, que essas miúdas é tudo dietas!

Parabéns :)

Encostava-te à parede (não tenhas dúvidas). Encostava-te à primeira parede que encontrasse e enrolava-te, como fazem as raparigas tímidas aos pedaços de cabelo que lhes tapam a cara. Nos meus dedos, torcido, enredado em fios, não terias outra hipótese que não fosse beijar a pele que te fosse permitida. É possível (meramente possível, repara, nada mais que isso) que te sentisses baralhado, que te perdesses até. Os rapazes enrolados sofrem de claustrofobia, todas as raparigas (as tímidas e as outras) sabem disso. É por isso que usam o cabelo, enquanto espreitam sob as franjas: basta um gesto para os soltar.

Dar parabéns com um texto repostado, eu sei, não é grande coisa. Mas para que não restem dúvidas que era eu e eras tu. :)

5.7.07

Ok, esqueçam os elefantes

que estou sem tempo para continuar, embora saiba exactamente o que vai acontecer. Mas é sempre a mesma coisa, não tenho tempo/disponibilidade real e depois, quando tenho, já estou tão estoirada que não sai uma frase direita.

Esqueçam os elefantes, portanto, que logo regressam um dia destes, quando houver mais espaço. Parecendo que não, ocupam algum e precisam de ram disponível. Siga o tasco, para bingo ou pelo menos para linha ou meia dúzia, uma vez por outra. Há inutilidades à espera para serem escritas. E se não for eu, quem escreverá?

(a blogsfera encarrega-se disso, não te preocupes...)

4.7.07

All hands, stand by!

Não sei se sabem aquele blog muito bom mas impossível de ler por causa das esdrúxulas? Pois acabou de sofrer um upgrade e quando digo sofrer digo mesmo, porque aquela rapaziada nem vai saber de que terra é, agora que contrataram a segunda melhor blogger (a primeira sou eu) do mundo. Não dou uma semana, a Susana manda naquilo tudo...

Feliz regresso, mana. :)

 
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