5.2.07

o primeiro amor é à estalada

É um casal embora me pareça ridículo chamar-lhes um casal. Um parzinho, talvez, é coisa mais apropriada, embora deteste a palavra. Enfim, um rapaz e uma rapariga, miúdos ainda, sem idade ainda para sair à noite mas já com idade para levarem a chave de casa pendurada numa fita ao pescoço. Estão numa das posições mais clássicas da adolescência que acabou de perder o pré: ele sentado num muro, ela de pé, entre as pernas abertas dele. Braços em redor um do outro com pouca convicção, talvez pela hora de sol ainda a pique, talvez pelas janelas abertas para a deitadela de olho aos miúdos, estão lá em baixo, foram brincar. Estão a brincar, os meninos, pensarão os adultos menos atentos, não passa de brincadeira, tudo aquilo, uma coisa incipiente, as nossas esquecidas, enterradas nos futuros que, àqueles dois, ainda não lhes aconteceram. Esquecemo-nos disso, que para aqueles dois, para aqueles dois que fomos há muitos anos, não havia ainda nada antes e, pensariam eles, não haveria nada de outro depois.
Não é nos beijos que trocam que lhes encontro essa seriedade.
Não.
É na timidez com que, entre beijos, vão dando belinhas na testa um ao outro.

 
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